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HIPERTENSÃO: o efeito do exercício isométrico

Fala Mestre | postado em 07/02/2017

Bruno Smirmaul e Karla Goessler

BRUNO SMIRMAUL
Fundador e Autor Principal do site "EFBE - Educação Física Baseada em Evidências" (www.efbe.com.br)
 
KARLA GOESSLER
Department of Rehabilitation Sciences - University of Leuven - Bélgica

"originalmente publicado em www.efbe.com.br"

Vídeohttps://www.youtube.com/watch?v=SBv0amG2Qiw

A hipertensão arterial, usualmente chamada de “pressão alta”, atinge aproximadamente 40% da população mundial, sendo responsável por 45% das mortes por isquemia cardíaca e 51% das mortes por infarto. No total, a hipertensão é responsável por cerca de 9,4 milhões de mortes anualmente, independentemente da classificação socioeconômica do país (WHO, 2013). No Brasil, sua prevalência é de aproximadamente 23% na população adulta (Malta et al, 2016), ou seja, atinge cerca de 1 em cada 4 pessoas. Mesmo entre as pessoas tratadas com medicamentos anti-hipertensivos, cerca de 50% ainda apresentam pressão arterial elevada (Borghi et al, 2016). Nesse contexto, ações de mudanças no estilo de vida são recomendadas, sendo a prática de exercícios físicos uma das principais estratégias para redução da pressão sanguínea (ACSM, 2004; Brook et al, 2013; Malachias et al, 2016).

Atualmente, os exercícios mais recomendados para a redução da pressão arterial são os de natureza aeróbia (Brook et al, 2013), como caminhar, correr, nadar, andar de bicicleta, dentre outros. Além disso, recomendações (Brook et al, 2013; Malachias et al, 2016) e recentes estudos (Casonatto et al, 2016; MacDonald et al, 2016) indicam que exercícios resistidos dinâmicos também são capazes de reduzir a pressão arterial, seja de forma aguda ou crônica. Contrariamente, exercícios isométricos são pouco populares e, muitas vezes, vistos como maléficos e/ou contraindicados para pessoas com pressão elevada. Porém, será que as evidências atuais indicam algum benefício por meio dos exercícios isométricos?

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Em 2013, uma revisão sistemática com meta-análise (Cornelissen & Smart, 2013) envolvendo 5223 participantes comparou os efeitos do treinamento aeróbio, resistido dinâmico, combinado (aeróbio + resistido dinâmico) e isométrico na pressão sistólica e diastólica, de acordo com os seguintes critérios:

a) estudos com ≥ 4 semanas de treinamento
b) adultos sem doenças cardiovasculares

Os resultados mostraram que todos os tipos de exercício foram eficazes para a redução da pressão arterial sistólica e diastólica, exceto para a pressão diastólica no grupo de treinamento combinado. Enquanto não houveram diferenças na magnitude da redução para os grupos aeróbio, resistido dinâmico e combinado, o grupo de treinamento isométrico apresentou reduções de maior magnitude quando comparado a todos os outros. A tabela abaixo apresenta o número total de grupos estudados em cada tipo de exercício, assim como a magnitude de redução dos mesmos nos valores de pressão arterial sistólica e diastólica (em mmHg).

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Esses resultados em relação ao exercício isométrico também foram observados em diversas revisões sobre o tema (Kelley & Kelley, 2010; Owen et al 2010; Carlson et al, 2014; Millar et al, 2014). Embora estudos clínicos randomizados de alta qualidade e envolvendo um maior número de participantes ainda sejam necessários, o exercício isométrico foi incluído como uma das alternativas não-medicamentosas (na classe de exercícios físicos) nas recomendações de 2013 da American Heart Association (Brook et al, 2013), assim  como na 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial de 2016 (Malachias et al, 2016).

Em 2016, a mais recente revisão sistemática com meta-análise investigando os efeitos do exercício isométrico na pressão arterial sistólica, diastólica e pressão arterial média foi publicado, envolvendo 11 estudos com um total de 302 participantes (Inder et al, 2016). Dos 11 estudos, 6 utilizaram exercícios isométricos de preensão manual e 5 utilizaram exercícios de membros inferiores, sendo que nenhum deles reportaram efeitos adversos aos participantes. A tabela abaixo mostra os efeitos do treinamento isométrico (média para os 11 estudos):

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Os resultados demonstraram que o treinamento isométrico foi efetivo em reduzir todos os parâmetros de pressão sanguínea (sistólica, diastólica e pressão arterial média) em todos os subgrupos estudados (homens x mulheres; ≥ 45 anos x < 45 anos; treinamento ≥ 8 semanas x < 8 semanas; exercício isométrico unilateral x bilateral; exercício isométrico de preensão manual x membros inferiores; indivíduos normotensos x hipertensos). A análise de subgrupos indicou que o treinamento isométrico parece ser mais efetivo quando realizado com exercícios de preensão manual unilaterais, com duração ≥ 8 semanas, em homens, em indivíduos com idade ≥ 45 anos, e em hipertensos (Inder et al, 2016).

Além disso, o treinamento com o exercício isométrico tem demonstrado ser seguro para pacientes com doença arterial coronariana controlada, com nenhum efeito adverso reportado até o momento (Araújo et al, 2011; Millar et al 2014; Goessler et al, 2016). Quando as recomendações adequadas para o treinamento isométrico de preensão manual são mantidas (30% da contração voluntária máxima), as elevações de pressão sanguínea parecem ser de pequena magnitude (Araújo et al, 2011). Apesar disso, vale ressaltar que as atuais recomendações da American Heart Association (Brook et al, 2013) e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Malachias et al, 2016) recomendam cautela com a utilização do treinamento com exercícios isométricos, uma vez que poucos e pequenos estudos foram realizados até o momento.

Em conclusão, o treinamento isométrico de preensão manual, consistindo de 4 séries de 2min a 30% da contração voluntária máxima, com intervalos de 1 a 4 minutos entre as séries, realizados em frequência de 3 vezes por semana com duração de pelo menos 8 semanas (Millar et al 2014; Inder et al, 2016) também parece ser uma estratégia efetiva  para a redução dos parâmetros de pressão arterial. Enquanto equipamentos simples, como os demonstrados na figura abaixo, podem ser utilizados (Millar et al, 2008), eles não garantem que o indivíduo esteja na intensidade adequada. Contudo, equipamentos mais sofisticados com protocolo pré-estabelecido (como, por exemplo, o ilustrado na Figura D: 4 contrações bilaterais de 2min com 1 min de intervalo em entre as contrações à 30% da contração voluntária máxima) já estão disponíveis no mercado.

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Vale ressaltar que exercícios aeróbios e resistidos geram diversos benefícios para a saúde que vão além do impacto na pressão arterial. Assim, o exercício isométrico poderia ser uma estratégia utilizada em complementação aos mesmos, ou ainda, uma importante estratégia para auxiliar no tratamento da hipertensão arterial em pacientes com limitações e/ou contraindicações para a realização de exercícios aeróbios ou resistidos dinâmicos.

Durante a realização desse tipo de exercício, algumas recomendações importantes devem ser consideradas. Dentre elas, um importante fator para assegurar respostas adequadas de pressão sanguínea durante o treinamento isométrico é a manutenção da respiração de forma constante, sem a realização da manobra de Valsalva (forçar a expiração contra os lábios e narinas tampadas), que pode gerar elevações expressivas dos valores de pressão sanguínea (O'Connor et al, 1989).

Por fim, é importante lembrar que exercícios de qualquer natureza não são recomendados em indivíduos de alto risco, em pacientes com condições cardiovasculares instáveis, ou qualquer indivíduo com níveis de pressão arterial > 180/110 mmHg (Brook et al, 2013). Nessas populações, qualquer forma de exercício físico deve ser realizada apenas com recomendação médica.

Recomendaçõs baseadas em evidências

1) Apesar dos treinamentos aeróbio, resistido dinâmico e combinado (aeróbio + resistido dinâmico) serem benéficos para a redução de parâmetros da pressão arterial, o treinamento com exercício isométrico também tem demonstrado reduções de magnitudes significativas na redução da pressão arterial.

2) Evidências preliminares indicam que o treinamento isométrico de preensão manual, consistindo de 4 séries de 2min a 30% da contração voluntária máxima, com intervalos de 1 a 4 minutos entre as séries, realizados em frequência de 3 vezes por semana e com duração de pelo menos 8 semanas parece ser benéfico em reduzir os níveis de pressão arterial.

3) Indivíduos com condições cardiovasculares instáveis, ou com níveis de pressão arterial > 180/110 mmHg somente devem realizar exercícios (de qualquer natureza) com recomendação médica.

REFERÊNCIAS

ACSM. American College of Sports Medicine position stand. Exercise and hypertension. Med Sci Sports Exerc. 2004 Mar;36(3):533-53.

Araújo CG, Duarte CV, Gonçalves FA, Medeiros HB, Lemos FA, Gouvêa AL. Hemodynamic responses to an isometric handgrip training protocol. Arq Bras Cardiol. 2011 Nov;97(5):413-9.

Borghi C, Tubach F, De Backer G, Dallongeville J, Guallar E, Medina J, et al. Lack of control of hypertension in primary cardiovascular disease prevention in Europe: Results from the EURIKA study. Int J Cardiol. 2016 Sep;1(218):83-8.

Brook RD, Appel LJ, Rubenfire M, Ogedegbe G, Bisognano JD, Elliott WJ, et al. Beyond medications and diet: alternative approaches to lowering blood pressure: a scientific statement from the American Heart Association. Hypertension. 2013 Jun;61(6):1360-83.

Carlson DJ, Dieberg G, Hess NC, Millar PJ, Smart NA. Isometric exercise training for blood pressure management: a systematic review and meta-analysis. Mayo Clin Proc. 2014 Mar;89(3):327-34.

Casonatto J, Goessler KF, Cornelissen VA, Cardoso JR, Polito MD. The blood pressure-lowering effect of a single bout of resistance exercise: A systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. Eur J Prev Cardiol. 2016 Nov;23(16):1700-1714.

Cornelissen VA, Smart NA. Exercise training for blood pressure: a systematic review and meta-analysis. J Am Heart Assoc. 2013 Feb 1;2(1):e004473.

Goessler K, Buys R, Cornelissen VA. Low-intensity isometric handgrip exercise has no transient effect on blood pressure in patients with coronary artery disease. J Am Soc Hypertens. 2016 Aug;10(8):633-9.

Inder JD, Carlson DJ, Dieberg G, McFarlane JR, Hess NC, Smart NA. Isometric exercise training for blood pressure management: a systematic review and meta-analysis to optimize benefit. Hypertens Res. 2016 Feb;39(2):88-94.

Kelley GA, Kelley KS. Isometric handgrip exercise and resting blood pressure: a meta-analysis of randomized controlled trials. J Hypertens. 2010 Mar;28(3):411-8.

MacDonald HV, Johnson BT, Huedo-Medina TB, Livingston J, Forsyth KC, Kraemer WJ, Farinatti PT, Pescatello LS. Dynamic Resistance Training as Stand-Alone Antihypertensive Lifestyle Therapy: A Meta-Analysis. J Am Heart Assoc. 2016 Sep 28;5(10).

Malachias MVB, Souza WKSB, Plavnik FL, Rodrigues CIS, Brandão AA, Neves MFT, et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2016; 107(3Supl.3):1-83.

Malta DC, Dos Santos NB, Perillo RD, Szwarcwald CL. Prevalence of high blood pressure measured in the Brazilian population, National Health Survey, 2013. Sao Paulo Med. J. 2016 Mar/Apr:134(2):163-70.

Millar PJ, Bray SR, MacDonald MJ, McCartney N. The hypotensive effects of isometric handgrip training using an inexpensive spring handgrip training device. J Cardiopulm Rehabil Prev. 2008 May-Jun;28(3):203-7.

Millar PJ, McGowan CL, Cornelissen VA, Araujo CG, Swaine IL. Evidence for the role of isometric exercise training in reducing blood pressure: potential mechanisms and future directions. Sports Med. 2014 Mar;44(3):345-56.

O'Connor P, Sforzo GA, Frye P. Effect of breathing instruction on blood pressure responses during isometric exercise. Phys Ther. 1989 Sep;69(9):757-61.

Owen A, Wiles J, Swaine I. Effect of isometric exercise on resting blood pressure: a meta analysis. J Hum Hypertens. 2010 Dec;24(12):796-800.

World Health Organization (WHO). A Global Brief on Hypertension: Silent Killer, Global Public Health Crisis, 2013.

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